Palácio do Loreto / Palácio Pinto Basto
Largo da Cordoaria Nova/ Largo das Cavalariças /Largo do Loreto / Largo das 2 Igrejas/ Largo do Chiado
Localizado no Largo do Chiado, antes designado por Largo do Loreto e também Largo das 2 Igrejas, por estar próximo de 2 igrejas barrocas, a Igreja da Encarnação e a Igreja do Loreto, este edifício tem uma história rica e multifacetada, que atravessa mais de 2 séculos. (1)
- 1755
- 1771
- 1780
- 1791
- 1802
- 1804
- 1806
- 1808
- 1809
- 1820
- 1822
- 1830
- 1833
- 1840
- 1844
- 1846
- 1850
- 1855
- 1856
- 1864
- 1867
- 1873
- 1888
- 1889
- 1902
- 1904
- 1905
- 1913
- 1925
- 1937
- 1944
- 1978
- 1980
- 2002
- 2013
- 2022
1755
O primeiro projeto para o chafariz que viria a ser instalado no Largo do Loreto, era da autoria de Carlos Mardel, engenheiro de origem húngara que também desenhou os chafarizes da Esperança e do Rato. Foi um dos projetistas do Aqueduto das Águas Livres e um dos responsáveis da reconstrução de Lisboa após o terramoto. Face à ocorrência do terramoto de 1755, este primeiro projeto do chafariz não chegou a avançar.
1771
A estátua de Neptuno, que ornamentava o Chafariz do Loreto, por isso também chamado Chafariz de Neptuno, era da autoria do escultor Machado de Castro (também autor da estátua equestre de D. José no Terreiro do Paço) e foi encomendada em 1771. Curiosamente, o financiador desta estátua, esculpida em mármore de Carrara, foi Anselmo José da Cruz, futuro Barão de Sobral, cujos herdeiros viriam a ser os principais financiadores da Bonança em 1808.
1791
Cerca de 11 anos após a instalação do Chafariz do Loreto, o edifício original veio a ser reedificado por (João) Francisco Higino Dias Pereira sobre as ruínas de um casarão anteriormente ali existente e que terá sido destruído pelo terramoto de 1755. Este proprietário inicial foi, curiosamente, um dos fundadores de uma das primeiras seguradoras nacionais, a Companhia de Seguros Comércio de Lisboa, que aqui terá funcionado entre 1794 e 1798, data em que deixou de exercer atividade.
1802 – 1804
De 1802 a 1804 o palacete é alugado pelo representante diplomático de França, General Jean Lannes (futuro Marechal de França, Duque de Montebelo e Príncipe de Siévres), que aqui habita com a esposa Madame Louise Lannes. Pagava uma renda anual de 1.600$000 Réis. Em 10 de maio de 1894, comemorando o facto de Napoleão ter escapado a um atentado em Paris, ofereceu um grande concerto com os melhores artistas do S. Carlos e um grandioso baile.
1804-1805
O novo embaixador de França, General Jean Andoche Junot e a esposa Laure Permon, futura Duquesa de Abrantes, são os novos inquilinos do palácio. Madame Junot, que viria a escrever um livro de memórias “Recordações de uma estada em Portugal”, refere na página 89 desse livro: “…Recebia todos os dias, dava 2 bailes por mês, e concertos frequentemente. O corpo diplomático reunia-se todas as noites em minha casa: jogava-se whist e , durante esse tempo eu permanecia noutra sala onde com algumas jovens senhoras dançávamos acompanhadas ao piano…”. Era assim que o tempo se passava nos dias em que não havia ópera, o que era raro. A ópera era então excelente em Lisboa. Ele era a Catalani, Crescentini e Monbelli para a ópera séria e Marcos Portugal como compositor; para a ópera cómica, Naldi, a Gafforini, Olivieri e Fioravanti como maestro.” Este livro, tal como vários outros que a Duquesa escreveu, terão tido a orientação literária de Balzac, por quem se apaixonou, já viúva de Junot que faleceu em 1813, na sequência de uma tentativa de suicídio.
1806
João Pereira de Sousa Caldas, grande capitalista e empresário do S. Carlos, de cuja construção havia sido um dos financiadores, habita o palácio durante algum tempo. Os mais famosos artistas de ópera dessa época, que então operavam no S. Carlos, participavam nos frequentes saraus organizados no Palácio do Loreto. Em 1792, João Pereira de Sousa Caldas foi sócio de uma das primeiras seguradoras nacionais, a Caldas, Machado, Gildemeester, Dlz e Cª e, com José Ferreira Pinto Basto, foi um dos 8 sócios fundadores da Companhia de Seguros Lisboa, em 1818. Esta seguradora viria a ser absorvida pela Fidelidade, em 1839.
1820
Cerca de 1820 o palácio é adquirido pelo comerciante e industrial José Ferreira Pinto Basto, que aqui vem habitar com a sua numerosa família e procede a obras de remodelação que se prolongam até 1833. Adaptou o andar nobre a espaço residencial, com uma grande escadaria interior e com a decoração de tetos, que os especialistas atribuem maioritariamente ao pintor Ciryllo Volkmar Machado, que também esteve envolvido na decoração de vários outros palácios em Lisboa (Palácio Quintela e Palácio Porto Côvo) e Palácio Nacional de Mafra.
1822 – 1824
Segundo o jornalista e historiador aveirense Marques Gomes (1853-1901), amigo e colaborador da família de José Ferreira Pinto Basto, este terá instalado em 1822, nos jardins do palácio, um pequeno laboratório “a fim de descobrir barros com os requisitos necessários para fabricar porcelana”. Em 1824 viria a ser concedida autorização régia para abertura da Fábrica da Vista Alegre.
1830
O edifício foi parcialmente ocupado pelo prestigiado Colégio de Madame Champeaux, que antes funcionava na Rua de S. Paulo, junto ao Arco do Marquês. Tratava-se de um “Colégio de Educação de Meninas”, onde se ensinava Francês, Inglês, Italiano e Espanhol, Dança, Música, Desenho, Geografia, História, etc., para além de “várias obras próprias de senhoras”, como coser, marcar, fazer redes e bolsas, bordar, matizar, etc.
1840
O Duque de Palmela, que então presidia ao Conselho de Ministros, habita temporariamente o edifício com a família, enquanto decorriam obras de remodelação do seu Palácio do Largo do Rato. A sua filha D. Maria Luísa Domingues, 3ª Duquesa de Palmela, artista e fundadora das Cozinhas Económicas, viria a nascer no palácio em 1841.
1844 – 1848
Hotel Peninsular, ou Hotel da Península, que foi sede da Assembleia da Península, cujos esplendorosos bailes foram famosos na época, sendo frequentados pela alta sociedade lisbonense (Vide Revista Universal Lisbonense nº 7 de 20 janeiro 1848). Ficou famoso o Baile Sarau de 29 de Março de 1845, “em benefício dos emigrados políticos e mais pessoas necessitadas”. Um dos frequentadores ilustres deste hotel foi o grande escritor português Almeida Garrett.
1850 – 1853
Hotel Itália. Pertencente a Barradim, terá sido o mais luxuoso dos 3 hotéis que aqui funcionaram e foi frequentado, entre outros, pelos escritores Almeida Garrett e Alexandre Herculano. O nome Hotel Itália derivará da proximidade com a Igreja do Loreto, também conhecida por Igreja dos Italianos.
1873
Filial em Lisboa do Banco Comercial do Porto. Fundado no Porto, em 1835, foi um dos primeiros bancos portugueses e chegou a ter faculdade de emissão de notas, de 1836 a 1891. De 1873 a 1889 – Grand Hotel du Matta, do famoso cozinheiro João da Matta, que foi proprietário de vários e afamados restaurantes e hotéis em Lisboa. Grandes figuras da vida literária do Sec. XIX, como Ramalho Ortigão, Bulhão Pato e Guerra Junqueiro frequentaram este hotel, que terá servido inspiração a Eça de Queiroz para conceber o hotel frequentado pelo personagem Ega do conhecido romance “Os Maias”.
1905 – 1946
Associação Central da Agricultura Portuguesa, designada Real Associação Central da Agricultura Portuguesa até 1910, data da implantação da República. Também funcionou aqui a Sociedade de Ciências Agronómicas de Portugal (Museu Agrícola). Nesta altura o jardim funcionou como estufa de plantas exóticas e ornamentais.
1944 – 1950
Foi instalado um elevador e o edifício sofreu outras obras de adaptação dos interiores, com projeto do conceituado Arquiteto Porfírio Pardal Monteiro, para tornar o espaço mais funcional, permitindo a ocupação de todo o edifício pelos serviços da seguradora “A Mundial”, que ocorreu em 1948. O andar nobre foi alvo de uma cuidada intervenção de restauro das pinturas do teto pelo pintor Albino Moreira da Cunha.
2013
Em 2013, o jardim do palácio foi palco do lançamento da marca única Fidelidade, após a fusão, em 2012, entre a Fidelidade Mundial e a Império Bonança, de que resultou a Fidelidade – Companhia de Seguros, S.A. No Pavilhão ali existente, designado Pavilhão de Caça, foi instalada uma exposição interativa, com documentos, objetos e imagens, contando uma história de mais de 200 anos.
Fidelidade Arte
O Palácio, alugado pela Fidelidade, mantém a sua identidade histórica e artística, compatibilizando o funcionamento dos serviços inerentes à atividade empresarial com uma galeria de arte dedicada à obra de artistas contemporâneos. Esta galeria, designada Galeria Fidelidade Arte, foi inaugurada em 2002, sendo uma contribuição da Fidelidade para a reabilitação do Chiado. Decorridos mais de 20 anos com exposições contínuas, a Galeria Fidelidade Arte faz parte do roteiro cultural de Lisboa.